Administração

O meio ambiente social da comunicação

Juan E. Diáz Bordenave – 0 que é Comunicação


Tarde de jogo decisivo no gigantesco estádio. Os gritos de milhares de torcedores levam caloroso apoio aos jogadores. Com fundo de tambores, rojões e foguetes, agitam-se as bandeiras multico­loridas nas arquibancadas. Os alto-falantes infor­mam a composição dos times e as eventuais substituições. Enxames de radinhos de pilha colados aos ouvidos formam um zumbido constante que vira pandemônio quando estoura um gol. Os refletores do estádio e os sinais luminosos do placar eletrônico dão uma atmosfera circense ao espetáculo. Na tribuna de honra as autoridades trocam comentários com os convidados especiais. Dúzias de repórteres e fotógrafos acompanham os lances da partida, enquanto rádio e televisão levam a milhões de pessoas no país inteiro as emoções da grande festa popular.

Primeiro dia de sessões da Câmara dos Depu­tados após o recesso de Natal. As cadeiras, normalmente vazias, estão todas ocupadas. Vota-se hoje o audacioso projeto de reforma agrária apresentado pela oposição. O futuro de milhões de agricultores e suas famílias depende do entrechoque das argumentações, da influência dos grandes interesses, das lealdades manipuladas, da coragem de uns e da esperteza de outros.
Grupos antagônicos de latifundiários, estudantes, agricultores, bóias-frias e intelectuais lotam as galerias. Escutam-se, lá fora, os gritos de populares não admitidos no recinto. O policiamento é ostensivo e a tensão no ar é quase tangível. Jornalistas amontoam-se nos lugares reservados para a imprensa. Câmaras de televisão focalizam os atores principais do confronto. A presidência da mesa abre os trabalhos. Microfones e alto­falantes amplificam as intervenções. O debate esquenta. Aplausos e vaias nas galerias obrigam o Presidente a fazer soar a campainha. Desde seus lares, os habitantes do país acompanham o dramático funcionamento da democracia.
É sábado e a feira livre do bairro está no momento de máxima atividade. Os feirantes – brasileiros, portugueses, italianos – chamam a atenção dos fregueses para os seus preços escritos com giz nas tabuletas para poder mudá-los quando convier. As donas-de-casa, assustadas pelos preços sempre em aumento, barganham com insistência. Velhos cavalheiros de bermuda carregam sacolas e olham as empregadinhas rebolantes. Senhoras de todas as idades, umas de short, outras elegantes, algumas grávidas, manuseiam chuchus, cheiram peixes, escolhem laranjas, comentam os preços com as demais freguesas. Inspetores da fiscalização passeiam devagar entre as barracas com ares de importância. Barulhentos carrinhos “made in favela”, empurra­dos por rapazolas, transportam as compras das “madames”. Vizinhos do mesmo prédio encon­tram-se e batem um papinho, interrompendo o trânsito de pessoas e carrinhos entre as barracas. Mendigos esperam conversando o fim da feira para catar os ingredientes de seu almoço.
Hora da novela no lar dos Azevedo. Toda a família está na sala, amontoada em sofás, cadeiras e almofadas. As empregadas olham em pé desde a porta da copa. Uma das filhas tenta conversar com a mãe e é interrompida pelo “Shhhhl!!” de todos os presentes. Chegam uns amigos e imediatamente são silenciados e acomodados. Nos momentos críticos pode-se escutar o vôo de uma mosca, tal é o silêncio dos narcotizados. Nesta sala, no apartamento vizinho, em todos os apartamentos do prédio, em todos os prédios da cidade e em todas as cidades do país, todo o mundo está preso aos infortúnios da coitada Heloísa, abandonada pelo marido por sua melhor amiga. Episódios como estes constituem o meio ambiente social da comunicação.
A comunicação está presente no estádio de futebol, na Câmara dos Deputados, na feira livre e na reunião familiar.
No estádio de futebol, a comunicação aparece nos gritos da torcida, nas cores das bandeiras, nos números das camisetas dos jogadores, nos gestos, apitadas e cartões do juiz e dos bandeirinhas, no placar eletrônico, nos alto-falantes e radinhos de pilha, nas conversas e insultos dos torcedores, em seus gritos de estímulo, no trabalho dos repórteres, radialistas, fotógrafos e operadores de TV. O próprio jogo é um ato de comunicação. Dias antes já tinha provocado dúzias de mensagens e durante dias a fio ele continuará sendo objeto de comunicação nos botequins, nos escritórios, nas fábricas, nos rádios e jornais.
Na Câmara dos Deputados, a comunicação é a essência mesma de seu funcionamento. Tudo nela foi construído e organizado para fornecer um ambiente adequado à comunicação, desde a forma especial do grande recinto, passando pela posição da mesa e das cadeiras, o acesso aos microfones, o tabuleiro de cômputo dos resultados das votações, até a presença de taquígrafos e distribuidores de discursos. Todo um complexo sistema de normas e de códigos disciplina a comunicação parlamentar para o cumprimento da função legislativa.
A feira de bairro é um ambiente social não estruturado de comunicação, já que sua função básica é a comercialização de produtos. Entretanto, esta função não poderia ser cumprida sem a comunicação: a exibição de produtos e seus preços, a barganha pela qual vendedores e compradores chegam a um acordo, a própria fixação dos preços.
Sua modificação durante a feira, são todos atos de comunicação. Mas a feira não é só um mercado de produtos. E também um lugar de encontro. Habitantes do mesmo prédio, que mal se cumprimentam nos elevadores, entretêm-se em demoradas conversas no informal ambiente da feira de seu bairro.
Na hora da novela, as pessoas se “incomunicam” entre si para comunicar-se com a fantasia. A TV já foi chamada de “magia a domicílio”, por seu poder de transportar as pessoas a outros mundos onde a rotina e o cansaço cedem lugar à aventura à emoção. A família reunida para ver a novela constitui um dos microambientes da comunicação, como o são também o papo no escritório, a festinha de aniversário, o casamento, o velório e piquenique, o mutirão e a missa. Milhões destes microambientes formam o macroambiente social da comunicação.
Então, a comunicação não existe por si mesma, como algo separado da vida da sociedade. Sociedade e comunicação são uma coisa só. Não poderia existir comunicação sem sociedade, nem sociedade sem comunicação. A comunicação não pode ser melhor que sua sociedade nem esta melhor que sua comunicação. Cada sociedade tem a comunicação que merece. “Dize-me como é a tua comunicação e te direi como é a tua sociedade.”

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