Administração

Santo de casa não faz milagre


O “ESTRANGEIRO” E O IMAGINÁRIO BRASILEIRO: UM ARQUÉTIPO TUPINIQUIM?

Nossa tendência ao estrangeiro não é exclusividade brasileira, em várias colônias latino-americanas e em outros países periféricos também possuem essa tendência. Para todos os modos em cada sociedade houve uma forma diferente de reação a cada influência. De vários malefícios que a “onda” do estrangeirismo afetou o Brasil, de outro ponto de vista proporcionou uma abertura à entrada de novas ideologias externas.

Sempre adaptando nosso estrangeiro referencial, tanto para o lado econômico quanto para o lado político, enfim, quando sentíamos a necessidade. O tabu de que tudo que vem de fora é bom e melhor nos deixa marcas fortes, principalmente no estudo organizacional, devido às importações indevidas de modelos de culturas diferentes.

Essa fixação pelo que vem de fora pode ser um complexo de inferioridade, uma necessidade de ter sempre alguém para guiar, pois sem esse guia não conseguiríamos chegar lá. Esse complexo de inferioridade podemos dizer ser fruto de um longo processo ancestral de movimentos constantes culturais que provocaram essa “deficiência” em nosso povo.

RAÍZES NACIONAIS DA FIXAÇÃO BRASILEIRA COM O ESTRANGEIRO

Em nossas raízes históricas até de certa forma pulando a miscigenação e trocas cosmopolitas que Portugal sofreu ao longo dos anos, podemos começar pelo processo de colonização, que por padrão da época Portugal seria como um centro de referência cultural para todo o Brasil, essa dependência cultural se acentuou com a chegada da família real. Passados alguns anos, no período de industrialização, Inglaterra e depois a França chegam com força total de forma amigável incentivando tanto o consumo de seus produtos como também abrindo os portos de sua cultura, que deu bons resultados e se alastrou em quase todos os países. Após a Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos foi ao auge e se tornou a potência mundial, e desde então seus padrões culturais são altamente divulgados e associados à nossa cultura.

A cultura brasileira não foi barreira para a fixação com o estrangeiro, pois desde sua formação já houve grande mistura de raças, ainda mais com as freqüentes imigrações que ocorreram durante vários anos, e a nossa grande receptividade às raças, o não orgulho à raça, de certa forma herdada dos portugueses.


Um forte fator econômico de influencia foi o processo de industrialização, que de certa forma revolucionou os hábitos e costumes brasileiros. O brasileiro passa a consumir cada vez mais, ficando dependente desse consumo. Em decorrência ao acelerado crescimento tecnológico em todos os campos, até mesmo o administrativo no período pós-guerra, o nosso referencial passa a ser os países do 1º Mundo.

Vários agentes contribuíram para disseminar idéias e modelos estrangeiros. O estado, por exemplo, favoreceu as elites e sustentou desde o império vários padrões sociais. Os meios de comunicação atuaram na disseminação de informações globais que fortaleceram hábitos sociais e de consumo importados. A educação agiu na difusão e sustentação de uma mentalidade importadora no Brasil, e também na formação de profissionais que utilizam referenciais e recursos estrangeiros. Os profissionais que são achados mais comumente nas empresas são os que detêm de conhecimentos como o consumismo e sua influência através de tecnologias importadas.

IMPLICAÇÕES ORGANIZACIONAIS

As raízes tanto culturais, quanto educacionais etc., que alteraram nosso paradigma e acabaram mesmo confirmando e estimulando nosso apego ao estrangeirismo, teve drásticas influências às empresas em geral no Brasil. Benchmarkings viraram febres no meio organizacional, e não só copiando modelos importados, como todo o reflexo que se criou dentro do nosso país, que mais se parece um efeito dominó de cópias em seqüência, começado dos estados do Norte, Centro-Oeste, e Nordeste copiando modelos das regiões Sul e Sudeste que copiam modelos de países desenvolvidos.

Mesmo com a real adaptação dos vários modelos importados para as empresas brasileiras, acaba que de certo modo perdendo uma visão crítica e também perdendo a nossa identidade própria, nossa originalidade, ponto forte esse na nossa cultura. As raras obras feitas sobre as organizações criadas exclusivamente no Brasil, utilizam ainda referências estrangeiras, e com isso deturpando um pouco o que seria de mais puro da nossa cultura. Um dos grandes desafios para os administradores é realmente a criação de um modelo genuinamente brasileiro, sem qualquer influência de fora, capaz de suprir nossas deficiências de adaptação aos modelos estrangeiros, que mesmo com muita habilidade não se tornam 100% aplicáveis.

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