Administração

Estudo de caso: A Escola de Administração dos Marines




* As respostas estão no final do texto.

Os marines, homens e mulheres do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (United States Marine Corps) consideram-se uma organização militar singular. Alguns estudos sobre os marines concluem que o mundo dos negócios tem muito a aprender com eles. Muitos executivos americanos, que foram marines, confirmam essa crença. Liderança e persuasão, em lugar de chefia autocrática, estão entre seus principais valores.

Os marines delegam autoridade de decisão aos níveis inferiores, e, ao mesmo tempo, preservam uma estrutura organizacional simples, para que todos consigam administrar suas tarefas. Há seis níveis hierárquicos entre o soldado de infantaria e o coronel que comanda um regimento. No entanto, quando a ação começa, a hierarquia entra em colapso, para ser substituída por um sistema situacional. Em todos os níveis, os marines podem tomar decisões sem consultar a cadeia de comando. Até mesmo os soldados sabem que devem tomar a iniciativa necessária para completar uma missão.

Para poder delegar decisões críticas de combate aos níveis inferiores, os marines dão muita atenção às habilidades das pessoas que recebem essa responsabilidade. Seleção e treinamento estão entre as prioridades mais altas. A melhor oportunidade de carreira para um oficial – o posto mais difícil de conseguir, e que, certamente, poderá levá-lo ao topo – é selecionar e treinar novos marines.

A primeira experiência de um candidato a oficial dos marines (a menos que seja oficial da Marinha americana) é a Escola de Candidatos a Oficial (OCS, Officer Candidate School) . “Escola” é eufemismo, já que a OCS não ensina nada a suas “vítimas”.  Seu papel é fazer passar pela peneira aqueles que não têm o estofo certo. Basicamente, a escola consiste de uma entrevista de emprego. A entrevista dura 10 semanas de 7 dias de 24 horas. O comandante da escola acha ridículo gastar esse tempo para avaliar um gerente em potencial. “É insuficiente”, disse ele em tom de brincadeira.

Os candidatos passam por muitos desafios físicos e acadêmicos na OCS. A qualidade mais observada, no entanto, é aquilo a que os marines chamam constante e, quase casualmente, de liderança. “Não tem definição”, diz o comandante da escola. “Nosso trabalho é reconhecê-la”.

Seja qual for o significado, a OCS coloca a liderança em evidência, submetendo os candidatos a uma série de problemas práticos. Um dos exercícios consiste em levar um camarada ferido, atravessando um campo minado, com o uso de cordas e tábuas. Em outro exercício, têm que escalar uma parede aparentemente insuperável. Enquanto os candidatos se esfolam, os instrutores observam, sem nenhum sinal de emoção.

A solução do problema em si não conta muito. O comandante da escola pergunta, para exemplificar as habilidades realmente procuradas: Quem assume o comando? Quem pede sugestões aos outros? Quem reconhece que um plano falhou e recomeça tudo?

Quando a fumaça se dissipa, cerca de 25% dos candidatos são eliminados. Os aprovados vão para a Escola Básica, um curso de seis meses destinado a transformar tenentes em oficiais dos marines. A escola distingue-se de outras instituições de treinamento por preferir desenvolver a liderança, em vez de ensinar habilidades específicas. Sua filosofia é treinar alunos para saber como funciona a organização, e entender e motivar pessoas. A metodologia é expor os alunos à maior quantidade possível de cenários, para que o cérebro aprenda a reconhecer padrões que possa aplicar a situações novas.

Tomar decisões com informações insuficientes, sabendo que vidas estão em risco, é muito desconfortável. A indecisão, no entanto, é considerada fatal. É pior do que tomar uma decisão medíocre. O compromisso dos marines com a decisão tem raízes em sua missão de 200 anos: uma tropa de assalto rápido não perdoa os estilos gerenciais autocráticos e burocráticos. Para realizar uma missão, os marines definem um “estado final”. O estado final é um objetivo razoável e mensurável, que define as capacidades do grupo e seu entendimento dos obstáculos. O estado final é um conceito crítico, porque, via de regra, os marines não fornecem detalhes a seus subordinados. Eles apenas dizem qual é a situação agora e como querem que termine, deixando os detalhes da ação aos executores. A razão para isso é o desdobramento rápido dos eventos no tipo de ambiente em que os marines trabalham.  Os meios particulares para realizar uma tarefa podem tornar-se inviáveis de repente. Se, no entanto, o objetivo for bem compreendido, os meios são indiferentes.

Uma vez escolhido o estado final, o grupo propõe três cursos de ação para o comandante, que tem a prerrogativa da última decisão. No entanto, o desacordo é não apenas permitido, mas praticamente exigido. Esse é o pensamento padrão dos marines: homens e mulheres, soldados e oficiais, todos devem manifestar suas dúvidas a respeito de decisões e ordens questionáveis. Um dos maiores erros que um oficial pode cometer é ignorar esse questionamento.

O treinamento para decidir inclui visitas aos escritórios de investimento em Wall Street, onde se aprende a tomar decisões com base em informações produzidas por bancadas de monitores. Esse pode ser exatamente o cenário em que os oficiais enfrentarão no futuro.
Outra idéia que vem sendo discutida é a prática, da Segunda Guerra Mundial, de recrutar gerentes civis e promovê-los a coronéis. Os marines admitem que o mundo exterior tem competências e soluções gerenciais que atendem a suas necessidades. Afinal, há pelo menos um ponto em comum entre os marines e o mundo dos negócios: competição dura.

Questões:

  1. Que similaridades e diferenças existem entre a corporação descrita neste estudo de caso e uma empresa?
  2. Em sua opinião, é válido comparar a filosofia de administração de uma organização de combate com uma organização de negócios?
  3. Você acha que seria possível utilizar, em uma empresa, os métodos de seleção e treinamento de executivos dos marines? Quais suas sugestões para colocar essa idéia em prática?
  4. As organizações militares são cercadas pelo mito da hierarquia, segundo o qual as ordens não podem ser questionadas pelos subordinados. Quais são, em sua opinião, as vantagens e desvantagens de estimular o espírito crítico e o questionamento das decisões nas organizações?
  5. Algumas pessoas argumentam que a disciplina, nas organizações militares convencionais, não é verdadeiramente disciplina. Trata-se apenas de obediência cega. Em sua opinião, disciplina é diferente de obediência?
Resposta às questões:


1. As similaridades e diferenças serão apresentadas abaixo:

Similaridades:

  • Delegação de poder;
  • Estrutura hierárquica;
  • Seleção e treinamento;
  • Liderança (observada nos exercícios da OCS – Escola de Candidatos a Oficial);
  • Competição acirrada (ideia que vem sendo discutida e que foi uma prática utilizada na 2ª Guerra Mundial é o recrutamento de gerentes civis e promove-los a coronéis).
Diferenças:
  • Sistema situacional (“Em todos os níveis, os marines podem tomar decisões sem consultar a cadeia de comando”);
  • Desenvolver a Liderança e não as habilidades específicas (filosofia da OCS – Escola de Candidatos a Oficial);
  • Estilos gerenciais autocráticos e burocráticos (os marines não toleram em sua missão de 200 anos, e até hoje muitas empresas utilizam ou deixam utilizar esse modelo);
  • O desacordo não é apenas permitido, mas é praticamente exigido (o pensamento padrão dos marines, infelizmente muitas empresas com seu estilo autocrático não suporta nem mesmo uma pergunta).

2. Sim, é válida a comparação. Isso se mostra verdade devido a vários livros militares que são usados no auxílio à administração, temos como o mais conhecido exemplo o livro de Sun Tzu “A Arte da Guerra”. Um dos trechos do livro mais usado na comparação é sobre o sucesso, Sun Tzu afirma que para obter sucesso uma organização depende de quatro condições: objetivo comum, reação ao ambiente, liderança capaz e fluxo de informação eficiente.

3. Os métodos de seleção e treinamento dos marines podem sim ser utilizados em uma empresa, é lógico que com algumas adaptações. Na seleção poderíamos usar estudos de caso, e também criar situações reais para identificar a liderança em cada candidato, e no treinamento poderíamos levar o executivo a realizar visitas no ambiente de trabalho tanto na empresa, quanto em empresas similares.

4. As vantagens e desvantagens são descritas abaixo:

Vantagens:

  • Brainstorming (todos podem ter uma ideia válida perante aos problemas da empresa);
  • Sistema democrático (todo líder pode cometer erros em suas decisões, e esses erros podem ser consertados com os questionamentos).
Desvantagens
  • Resistência disfarçada de critica (muitas vezes as críticas não são construtivas e elas não vêm acompanhadas de soluções, essas críticas devem ser eliminadas);


5. Sim, disciplina é a capacidade de controlar um determinado comportamento de forma a respeitar regras ou conseguir resultados; já a obediência é a submissão a uma autoridade.

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