Aspectos Culturais Brasileiros na Análise Organizacional

CULTURA NACIONAL E “TRAÇOS CARACTERÍSTICOS”

Este artigo busca estender a compreensão da cultura brasileira para uma análise das culturas organizacionais. A importação indiscriminada de modelos e práticas gerenciais muitas vezes resulta em conflitos, evidenciando que o sucesso não reside necessariamente nessas mudanças, mas sim na compreensão dos indivíduos envolvidos.

A escassez de estudos organizacionais desenvolvidos especificamente no contexto brasileiro cria uma lacuna significativa para os administradores contemporâneos, que enfrentam o desafio de conduzir suas empresas dentro da realidade cultural brasileira em um mundo globalizado.

Ao abordarmos os traços brasileiros, podemos identificar características comuns que moldam a sociedade e, por consequência, as organizações que dela fazem parte. Essas características influenciam as culturas organizacionais de forma variada, conforme a dinâmica de cada organização.

RAÍZES BRASILEIRAS: “PLURALIDADE SEM CAOS”

A cultura brasileira, forjada no que é frequentemente chamado de “triângulo racial” (brancos, negros e indígenas), aliada à herança multicultural dos portugueses, resulta em uma complexa mistura. Nosso surgimento é marcado por um paradoxo cultural, alternando entre influências europeias, africanas e de povos que interagiram com os portugueses.

Dentro desse contexto, é possível identificar cinco traços fundamentais: hierarquia, personalismo, malandragem, sensualismo e espírito aventureiro. Esses traços, de maneira concisa, ilustram os contrastes, a plasticidade e a flexibilidade presentes em nossa sociedade.

TRAÇOS BRASILEIROS PARA ANÁLISE ORGANIZACIONAL

A hierarquia, enraizada em influências lusitanas, reflete um processo intenso caracterizado pela centralização do poder, distanciamento entre grupos sociais e aceitação passiva dos grupos inferiores. O modelo da família patriarcal estabeleceu um padrão moral rígido que regula as relações entre governantes e governados.

O personalismo é evidente no meio organizacional, manifestando-se em situações como a obtenção de empregos por meio de indicações pessoais (“quem indica”). Na esfera política, nem sempre os mais competentes ocupam posições de destaque, mas sim aqueles envolvidos em relações pessoais. Essa mesma dinâmica é observada na hospitalidade brasileira, marcada pelo acolhimento caloroso e pela generosidade no trato com os outros, características herdadas das culturas africanas e contraditórias com a hierarquização.

A “malandragem” brasileira representa uma forma de encontrar soluções criativas em meio a dilemas éticos, demonstrando uma adaptabilidade dinâmica e flexível.

O sensualismo, enraizado na liberdade sexual dos colonizadores, na cultura indígena e no poder sobre os escravos, se manifesta tanto nas relações interpessoais quanto na culinária brasileira.

O brasileiro tende a evitar trabalhos manuais devido a conceitos e tabus oriundos da escravidão, ao contrário de outras culturas em que isso é motivo de orgulho. No entanto, somos naturalmente empreendedores e inclinados a buscar aventuras, especialmente no mundo empresarial, em busca de retornos imediatos.